sexta-feira, 27 de maio de 2011

A terceira dimensão da vida: riscos e perigos


É quase unânime entre os seres humanos querer dividir a vida e suas existências em dois lados: branco ou preto, bem ou mal, certo ou errado, etc. A finalidade é optar de maneira clara sobre o que devemos ou não devemos fazer. Sim ou não? É difícil responder categoricamente. Nós, os seres ditos humanos, precisamos compreender o caráter plural, diversificado, contraditório que é viver e existir. Heráclito, filósofo grego, que viveu antes de Sócrates, dizia que não tomamos banho duas vezes no mesmo rio. As águas mudam e nós mudamos também.
Portanto, há algo para além das margens dos rios. Se, naturalmente, são duas, que tal pensarmos numa terceira? Aquela que não é visível aos olhos. A tradição ocidental e cristã é marcada em dividir as coisas em duas partes: casal de animais na arca de Noé, Abel e Caim, Adão e Eva, etc. E hoje parece não ser diferente. Olhemos ao nosso redor e observemos o quanto agimos dessa maneira. Agimos dentro de uma normalidade e a partir de expectativas que queremos que se cumpram. Se não se cumprem, colocamos a culpa no acaso. E seguimos adiante até o próximo imprevisto.
De imprevistos em imprevistos deixamos de observar a terceira margem do rio, a terceira dimensão da vida. E onde está e quem é ela? Por incrível que pareça somos nós mesmos. Ao invés de nos fecharmos numa individualidade e num egoísmo enganador, podemos inventar, ser diferentes sempre. Somos dotados dessa capacidade. Como uma canoa no rio, podemos navegar de um lado a outro, realizando algo nunca feito antes.  
Um ser humano assim tem atitudes pouco comuns, atitudes surpreendentes, transgressão às regras sociais, atuação em acontecimentos não habituais, anormalidades físico-psíquicas. Solto solitariamente, o canoeiro, que somos nós, pode agir até com insensatez, porque daqui pouco já está enquadrado. Daí a necessidade de sair do normal posto e imposto. Temos que ser alguém que ouse desafiar as regras estabelecidas, que proponha o novo, o diferente, o inesperado.
Alegoricamente, o existir e o viver são como uma travessia em águas revoltas e até mesmo profundas, difíceis de compreender e decifrar.  Isso significa que a rivalidade – o um contra o outro, que dá dois - não é o melhor caminho. Um é pouco, dois é bom e três é ótimo, porque é a soma que soma sempre, que ultrapassa. É não ficar na mediocridade de um dualismo ressequido, semimorto e numa flagrante mesmice da vida comum.
No sertão da vida, o desafio é seguir pelas surpreendentes veredas e, como Riobaldo, reconhecer que “viver é muito perigoso” e que isso “carece de ter coragem”, como diagnostica Diadorim. Mas por que nos tornamos covardes e medrosos? Uma resposta pode estar em queremos fazer uma travessia serena, ter uma rota pré-traçada. No entanto, a vida parece ser uma travessia arriscada e fascinante, que por vezes amedronta, mas nos transporta para além de uma dualidade quase frustrante. Pensar num terceiro caminho, sem guias, mapas e roteiros, parece ser uma postura interessante nos dias hoje. Pelo menos como reflexão, é um bom começo.

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