domingo, 30 de outubro de 2011

Ser professor não é para qualquer um

De todas as profissões que existem, creio que a de professor é a mais desafiadora. Na maioria das profissões que tem contato com pessoas, o profissional dificilmente atende ou se ocupa com mais de trinta indivíduos, ao mesmo tempo, no mesmo lugar e com várias turmas. Portanto, quando entra nas salas de aula, o professor tem que lidar com dimensões, perspectivas, expectativas e dinâmicas de vida as mais diversas. Ter competência técnico-científica seria, nesse caso, apenas um aspecto das tarefas que precisa ou poderia desempenhar.
Nesse sentido, o professor deveria ter uma compreensão mais ampla do ser humano com o qual trabalha; bem como de si mesmo. Porém, o que vemos é uma banalização e uma desvalorização quase completa da profissão docente.
O Brasil corre o risco de num futuro bem próximo ter uma grave crise na educação por falta de professores. Os cursos que formam docentes estão se esvaziando e os alunos que ainda acreditam estão perdendo as esperanças. Se isso não bastasse, os conteúdos que são ministrados aos futuros professores parecem que não dão conta das exigências que o cotidiano escolar apresenta. Entre elas está a questão do reconhecimento de um conjunto de individualidades que circulam na sala de aula, isto é, cada aluno tem a sua singularidade, a sua própria identidade.
Nos cursos de formação é dada uma ênfase apenas aos conhecimentos específicos que devem ser ministrados nas aulas: História, Geografia, Química, Matemática, Biologia, Língua Portuguesa, etc. O novo professor sai carregado de informações e, muitas vezes com bastante entusiasmo, procura trabalhá-las com os seus alunos, que foram concebidos de maneira abstrata e idealizados. Quando, porém, percebe que há uma distância entre o ideal e o real, o resultado é, geralmente, a frustração, o desencantamento e, para aqueles que podem, o abandono da profissão.
Assim, uma reflexão que talvez caiba fazermos é a respeito do que mudar no processo formativo e na prática pedagógica. Em minha opinião, o professor deve ter conhecimentos sobre ética, pois é um campo filosófico que nos proporciona compreender os valores que adotamos, o sentido dos atos que praticamos e a maneira pela qual tomamos decisões e assumimos responsabilidades em nossa vida.
Quando, numa sala de aula, estamos diante de situações de conflito ou quando defrontamos com dilemas, que exige decisões e escolhas, ter uma formação ética pode favorecer posturas novas, tolerantes e equilibradas em nossas práticas educativas. Mas isso é possível? Não é das tarefas mais fáceis, especialmente pelas razões já apontadas.
Todavia, esse alargamento na formação do professor, que pode incluir conteúdos estéticos, psicológicos, políticos, antropológicos, sociológicos, etc, nos leva a considerar com mais cuidado o significado do outro que, diferente de mim, deve ser respeitado e tratado na minha dignidade e na dele. No caso da escola, o aluno deve saber e reconhecer isso; o professor deve saber e reconhecer também. Como se vê, saídas podem ser arriscadas, basta sabermos se queremos correr riscos ou ficar conformados com o estado lastimável e degradante em que experimentamos na atualidade. São esses os desafios de todos nós!

Professor Alonso Bezerra de Carvalho é formado em Filosofia e Ciências Sociais. Doutor em Educação é docente da Unesp. E-mail: alonsoprofessor@yahoo.com.br