sexta-feira, 8 de julho de 2011

Por uma outra educação moral

É comum ouvirmos algumas pessoas defenderem a idéia de que a sociedade brasileira está fracassada do ponto de vista dos valores. Segundo elas, a juventude de hoje perdeu a noção dos limites e tudo parece caminhar para um verdadeiro caos. E mais: consideram a religião, a família, a política, etc, como em profunda crise. E para resolver essa situação, ainda segundo elas, é preciso termos de volta nas escolas uma disciplina como aquela que já tivemos, isto é, Educação Moral e Cívica, que seria complementada com Organização Social e Política do Brasil.
No final da década de 1960 o regime militar tornou obrigatória a implantação no currículo de conteúdos que garantissem a formação moral e cívica do cidadão. A idéia era oferecer uma educação baseada na transmissão e na conservação dos valores considerados mais edificantes e universais e que mantivesse a coesão social e a paz entre os homens. Não é preciso muita reflexão para imaginar quais os objetivos que estavam por trás de tão magnânimas intenções. Para não esquecer: vivíamos sob um regime ditatorial e totalitário.
É verdade que não há educação que seja neutra, o que significa dizer que as finalidades educacionais estão permeadas e sustentadas por interesses, ideologias e propósitos de grupos, de classes, etc. No entanto, podemos olhar a questão na atualidade a partir de outras perspectivas. Entre tantas que podemos lançar mão é que vivemos em outra época, em que valores como democracia e liberdade já não estão apenas no nível do discurso ou dos desejos, como antes, mas começa a se instaurar e se fortalecer gradativamente no conjunto da sociedade brasileira. Se assim é, cabe-nos pensar que tipo de educação moral os tempos atuais exigiria.
Com tantas informações e com tantos meios que facilitam a sua circulação, o cidadão brasileiro de hoje, especialmente os jovens, demonstra uma conduta que rompe com a idéia de que os valores podem vir de cima para baixo, respaldados ou transmitidos seja pelo Estado, pela Igreja ou pela Família.
Se quisermos compreender um pouco o que se passa, sugiro que não nos debrucemos apenas a considerar o ser humano como um ser racional, ou seja, que somos dotados da capacidade de pensar, apreender idéias e conceitos que outros nos transmitem e que nós assimilamos.  Nesse caso, bastaria uma disciplina e tudo acontece.
Atualmente, a noção de homem precisa ser vista de maneira mais ampla, incluindo ou reconhecendo que somos mais do que seres racionais, somos também seres passionais. Quando eliminamos ou queremos extirpar as paixões humanas as piores coisas podem ocorrer. Repressão dos instintos, dos desejos, das vontades, etc, são fontes de resistências e, quiçá, de atos violentos. Uma educação moral que queira ser renovada, contemporânea e transgressora precisa levar em conta esse nosso Outro lado. Nas escolas, nas famílias, nas igrejas, etc, parece que essas circunstâncias humanas ainda encontram profundas e elevadas barreiras. Colocar as paixões na ordem do dia de nossas análises, reflexões e atitudes pode ser o começo de algo inovador.