Prof.
Alonso Bezerra de Carvalho*
Desde
há algum tempo temos constatado, via reflexões, discussões e atitudes, que
estamos com muitas dificuldades em encontrar princípios que durem. Valores
universais que moviam as nações, os povos e as pessoas se ausentaram da vida
pública e nos resta apelar para as vontades e os desejos mais individualistas
ou egoístas. Nós, os humanos, temos que enfrentar a cada dia a vida
intramundana tal como ela é, pois para o além dela não se vislumbra nada de
seguro e permanente.
Pode
parecer novidade, mas essa constatação não é nada nova. Na história do
pensamento humano vários pensadores já se debruçaram sobre a questão, tentando
explicar ou compreender o que se passa. O filósofo alemão Nietzsche (1844-1900),
no século XIX, dedicou grande parte de seus escritos a refletir sobre a
falência dos ideais que prometiam uma vida feliz a todos os homens, tanto nessa
vida como numa outra que teríamos, no futuro, depois da nossa morte.
Nietzsche
vai dizer que os valores supremos de desvalorizaram. Isso não significa que o
homem perde seu leme e o rumo para onde precisa ainda percorrer. Não se trata
de mera negação. Antes disso, o que ocorreu foi apenas um esvaziamento de
sentido, simplesmente a vida e seus significados já não dizem mais as mesmas
coisas que dizem antes. Aquele otimismo exagerado nas ciências, na religião, na
educação, na política, etc., parece ter desaparecido e agora nos resta
enfrentar o vazio do mundo e de nós mesmos.
No
campo da moral, sobretudo, é bem visível, segundo Nietzsche, a falta de sentido
e a derrocada dos valores morais. Viveríamos num estado psicológico em que fica
difícil acreditar que tudo tem um fim, um fundamento e uma verdade e que a vida
eo mundo ainda possuem valor. Vivenciamos um processo de esgotamento
generalizado de novas possibilidades com a vida, ou ainda, a falência da
potencialidade humana em criar novas estimativas de valor.
Nietzsche
propõe a ideia filosófica de que “Deus está morto”, querendo dizer com isso que
os valores transcendentais e mais sublimes foram apagados de nosso horizonte.
Apagar o horizonte é tirar a meta ou a direção do homem, ou seja, que a cultura
já não tem um projeto para a formação do homem e nem rumo para onde nos
movimentarmos. “Deus está morto” significa que todas as esferas da cultura – a
política, a religião, a arte, a educação e a moral, por exemplo -, perderam sua
base de sustentação.
A
crise ética resultante desse processo é notória. Se nos resta alguma esperança
disso tudo, diria que cabe a nós pelo menos reconhecer e fazer um bom
diagnóstico da situação. A moral que adotamos até agora teria sido uma “moral
de rebanho”, cuja característica principal é o controle quase total de nossas
potencialidades com a promessa de uma vida ótima depois da morte. E com isso
deixaríamos de manifestar os nossos desejos de maneira plena. A repressão, a
culpa, o castigo, etc., eram os meios adotados para nos fazer acreditar nesse
outro mundo.
Talvez
não concordemos com o filósofo, mas que estamos diante uma boa interpretação
para os nossos tempos, isso estamos! Pensemos numa outra moral!
*Alonso Bezerra de Carvalho é
professor da Unesp.
E-mail:
alonsoprofessor@yahoo.com.br