terça-feira, 13 de março de 2012

A imperfeição humana





Quando falamos sobre o ser humano, tendemos a nos considerar como superiores e resultado de um processo evolutivo, visto de maneira otimista, progressista e esperançosa.  Num de seus escritos, o filósofo sofista e pré-socrático Protágoras (século V a.C.) teria dito que “o homem é a medida de todas as coisas; das coisas que são e daquelas que não são”. Um primeiro entendimento desse fragmento é que o homem daria o sentido e seria padrão das coisas que  inventa, cria, constrói, fala; das coisas visíveis ou  perceptíveis e das coisas invisíveis ou imperceptíveis, alcançadas pelo pensamento.
Enfim, de todas as coisas o homem seria a medida. Ele seria o critério da realidade. O ser e o não ser dependem inteiramente das sensações, percepções, opiniões, ideias e ações humanas. As coisas são ou não são conforme os humanos as façam ser ou não ser, ou digam que elas são ou não. Isto significa que é por ação humana que as coisas existem tais como são e que outras não existem, porque os homens convencionaram, por meio de leis, não admiti-las.
Essa compreensão do homem pode ser tomado, ao mesmo tempo, como algo que o enobrece ou que o empobrece. A principio, ser medida de todas as coisas significa que tudo se reduz e é conduzido por nossas mãos, o que nos torna senhores do mundo. Por outro lado, nos torna impotentes e fracos, pois temos que estar sempre alertas e atentos para que aquilo que construímos e edificamos permaneça e dure para sempre. No entanto, as coisas não são bem assim, visto que elas estão em perpétua mudança e nós estamos em perpétua mudança.
Duas pessoas podem e geralmente tem percepções e opiniões diferentes e até opostas sobre coisas que parecem idênticas ou iguais. Assim, fica praticamente impossível determinar um saber universal e necessário sobre elas. Não haveria a Verdade, mas verdades que movimentam as nossas vidas e as nossas ações.
Diante disso, fica-se a ideia ou a sugestão de que nós, humanos, somos imperfeitos e precários, e que ser a medida de alguma coisa, não nos ajuda em nada. Basta olhar ao nosso redor e aos fatos que nos atravessam: que somos um galho que o vento sopra em várias direções, exigindo um esforço constante para não ser levado para o abismo, situação que nem sempre temos condições de obter êxito.
A ideia do filósofo francês Descartes de que somos dotados, por sermos racionais, da capacidade de distinguir o bem do mal, o certo do errado, o verdadeiro do falso e, além disso, nos diferenciar dos animais, não ajuda muito. Os acontecimentos do cotidiano, como as doenças e a morte, são indicações justamente de nossa incapacidade. O que resta é nos arriscarmos no mundo, enfrentando as exigências do dia-a-dia, com bravura e fortaleza. Viver assim, é agir considerando o imprevisível; é sacudir as imagens tradicionais que nos aprisiona  e agir em direção a experiências que crie novas formas de vida. Eis o desafio!