terça-feira, 10 de setembro de 2013

A pluralidade humana e o professor na sala de aula


Quando um professor entra numa sala de aula geralmente ele parte da ideia de que ela é composta por um grupo homogêneo de pessoas. O mesmo faz os alunos em relação aos seus professores: haveria uma identidade entre eles. Essa uniformização das mais diversas identidades e jeitos de ser tem causado, a meu ver, situações conflitantes e desagradáveis na escola.
Se isso não bastasse, o aluno e o professor vão para escola com uma concepção e uma postura que também provoca algumas desconfianças, mas que, no entanto, passam despercebidas: que somos seres racionais. E isso é tudo. Queremos pensar em outra direção: aluno e professor não estão ali, na sala de aula, apenas para obter, construir, elaborar e buscar o conhecimento. Eles querem e desejam mais do que isso. Quando igualamos o não-igual corremos o risco de cometer atrocidades. Aquele desejo de universalidade e de homogeneidade, que está base de nossas práticas pedagógicas, pode encontrar aqui os seus limites. Enfim, não somos apenas um ser que pensa, em que o intelecto torna-se a única instância para se edificar um projeto e uma práxis educativa.
Seres plurais, inacabados e finitos que somos, vivemos e convivemos na companhia dos outros, que são diferentes para mim tal como eu sou diferente para eles. Na sala de aula, a busca da verdade deve combinar-se também com a busca da felicidade, da justiça e do belo. Do ponto de vista das relações que se estabelcem na escola, é preciso levar em conta a pluralidade e a singularidade que habita aquele espaço. Somos seres livres e abertos a experiências existenciais, seja individuais ou coletivas, irredutíveis a um único aspecto. Por isso sugiro aos professores que para o bem de sua mente e de seu corpo, não se angustiem e nem se estressem, mas aprenda a lidar com o imprevisível, incluindo o mundo sensível e passional em suas práxis pedagógica de forma a contribuir para um processo educativo mais amplo e integral.
Na sala de aula se manifesta as mais diversas perspectivas e expectativas que alunos e professores são portadores; é um dos lugares onde a pluralidade humana se exprime. Alunos e professores não são apenas sujeitos dotados da capacidade de conhecer, mas são pessoas que agem e sofrem os efeitos da sua ação na sua relação com os outros, constituindo, assim, as suas existências. O que quer que toque a vida humana ou entre em duradoura relação com ela, assume imediatamente o caráter de condição da existência humana. Tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele é trazido pelo esforço humano, torna-se parte da condição humana. Qualquer ação pedagógica deve levar isso em consideração, caso não queira viver a experiência da frustração, como às vezes ocorre.

Romper com a uniformização e com a visão universalizante da vida exige uma abertura ao outro em sua singularidade e não há espaço mais apropriado para isso do que a sala de aula. Com isso queremos dizer que não há o ser humano, mas seres humanos, ou nas palavras de Aristóteles, o humano se manifesta de vários modos, o que exige do professor redescrever a sua postura ao entrar em contato com seus alunos.