Quando
começa um novo ano sempre tendemos a considerar e a reconsiderar os planos e os
projetos para o futuro, com a esperança de que as coisas vão melhorar. É intrínseco
à condição humana desejar que os rumos da vida se aperfeiçoem em direção a um
estado de felicidade universal. Ninguém em sã consciência, ou até sem ela,
faria pedidos para que sua existência tornasse um mar de espinhos, com dores e
sofrimentos.
No
entanto, experimentamos em nosso cotidiano situações em que temos alegrias,
sim, porém, também vivemos momentos terríveis: doenças, mortes de familiares,
acidentes, crises, etc. Estamos sempre na berlinda, ou seja, a qualquer
instante podemos ser atravessados por uma tragédia que nos atinge
inesperadamente. Aquele ser forte, destemido, esperançoso, crente de que nada o
derrubaria, é quase aniquilado. Na linguagem do boxe: vai à lona. Temos que
contar até dez para conseguir se levantar, suportando e superando a dor.
Creia!
Ser feliz todo tempo é somente para os deuses, e olhe lá! Pois não sabemos como vive um deus. Aliás,
alguém agüentaria conviver com uma pessoa alegre e sorridente vinte e quatro
horas por dia? Nós, humanos, aqui na terra, somos desafiados a aprender a
enfrentar as agruras e as calamidades pessoais, naturais e sociais de maneira
destemida. É verdade que há momentos em que fraquejamos, revelando a nossa
finitude. Estou dizendo tudo isso para chamar a atenção para duas coisas: primeiro,
quem somos nós e, segundo, o que podemos querer da vida.
Etimologicamente,
homem vem do latime homine, que advem
de húmus, referindo ao chão, à terra,
àquilo que é terrestre. Como se vê, estaríamos distante dos céus, e dos deuses,
mas ligado ao pó. Componente da natureza, o homem é um ser limitado, incompleto
e, a crer em Darwin, originário de um processo evolutivo da vida na terra que
não se sabe, definitivamente, quando começou e muito menos quando vai se
acabar. Ou seja, não dá para dizer que hoje é melhor do que ontem, e que amanhã
será melhor do que hoje.
Todavia,
aprendemos ou até mesmo agimos ao longo de nossa vida como se fôssemos ou pudéssemos
ser senhor de nossa história. Essa seria a nossa diferença com os outros seres
viventes. E essa distinção estaria fundada na nossa capacidade de raciocinar e
agir inteligentemente. Ao contrário de certos animais, que já nascem prontos,
isto é, já nascem sendo tudo aquilo que podem ser, o homem, por sua vez, é potência,
campo aberto a ser cultivado. Estamos aí para sermos feitos e construídos.
Dito
de outro modo, além de razão, somos dotados de vontade, ou seja, estamos aptos
a escolhermos e decidirmos sobre o que queremos e desejamos para as nossas
vidas. E aqui, nos parece, que está o nosso grande mistério.
Enfim, estamos diante de um desafio. Como
conciliar um ser natural, racional e dotado de vontade, em prol de uma vida
mais agradável a todos e não apenas a alguns? Seria possível?