terça-feira, 26 de abril de 2011

Por uma ética do respeito e da compaixão

A época atual é marcada pela esperança de que possamos construir relações humanas mais sólidas, sinceras e solidárias. No entanto, a realidade insiste em mostrar situações, fatos e acontecimentos que indicam e exprimem perversidades e barbáries, como seria próprio de seres selvagens e irracionais, que agem apenas pelo instinto.
Dispostos à violência e à indiferença, às vezes temos dificuldade em construir laços com os outros. Se sabemos e reconhecemos que o melhor é a boa convivência, por que prevalece a insensibilidade e a apatia? Quanto é duro criar canais de diálogo e de admiração em relação às outras pessoas!
Vergonha? Timidez? Medo?  Fraqueza de espírito? O que nos faz não nos aproximar das pessoas? É possível aprender ou continuar a estar aberto ao outro, no estilo do que fazem as crianças?
Pois bem. Dois conceitos podem nos ajudar, primeiro, a refletir sobre nós mesmos e por que somos assim e, segundo, contribuir para novas atitudes e posturas: compaixão e respeito.
Ter compaixão não é ter dó, pena de alguém, mas, sim, ter aversão diante do sofrimento (pathos) alheio, isto é, aquela predisposição através da qual a dor de alguém é compartilhada pelo outro. Essa atitude seria uma das bases da ética, entendida como a maneira de ser dos homens, o seu caráter. Ação desinteressada, a compaixão é uma virtude, um esforço e um poder que nos torna seres excelentes e que permite passar de um ao outro, da ordem afetiva à ordem ética, do que sentimos ao que queremos, do que somos ao que devemos.
Compaixão é simpatia, essa disposição de caráter que nos proporciona a boa convivência, mesmo a gente sendo seres complexos e contraditórios. Isto quer dizer que experimentar a simpatia ou a compaixão é  um ato de decisão, de coragem, que vai se construindo ao longo das nossas relações, sem modelos e padrões, como se tudo ficasse reservado à natureza humana garantir.
O respeito é o companheiro da compaixão. Ter respeito é olhar com atenção, visto que nos tempos de hoje geralmente tratamos as pessoas automaticamente. O respeito é um movimento de aproximação que guarda a distância, é um achar-se comprometido, afetado, mas sem querer anular-se ou anular. Assumindo a nossa condição de seres finitos, esse olhar atento nos conecta com o mundo, com a densidade do mundo, com a novidade do mundo, sem ceder à vertigem da possessão nem da presunção.
A experiência do respeito como atitude ética exige de cada um de nós uma postura aberta ao diálogo, de admiração e de reconhecimento da beleza que envolve as pessoas, as coisas, assim como fazemos quando contemplamos uma obra de arte. “Nem todos os que veêm abriram os olhos, nem todos os que olham, veêm”, dizia o filósofo. É do prestar atenção, convertendo alguém em destino do nosso olhar que temos a garantia de uma boa conduta e da felicidade.
Ética do respeito, ética da compaixão talvez seja a condição para sairmos do estado de  indiferença, de insensibilidade e de morte da própria humanidade. Pense nisso!

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