Quando um professor entra numa sala de
aula geralmente ele parte da ideia de que ela é composta por um grupo homogêneo
de pessoas. O mesmo faz os alunos em relação aos seus professores: haveria uma
identidade entre eles. Essa uniformização das mais diversas identidades e
jeitos de ser tem causado, a meu ver, situações conflitantes e desagradáveis na
escola.
Se
isso não bastasse, o aluno e o professor vão para escola com uma concepção e
uma postura que também provoca algumas desconfianças, mas que, no entanto,
passam despercebidas: que somos seres racionais. E isso é tudo. Queremos pensar
em outra direção: aluno e professor não estão ali, na sala de aula, apenas para
obter, construir, elaborar e buscar o conhecimento. Eles querem e desejam mais
do que isso. Quando igualamos o não-igual corremos o risco de cometer
atrocidades. Aquele desejo de universalidade e de homogeneidade, que está base
de nossas práticas pedagógicas, pode encontrar aqui os seus limites. Enfim, não
somos apenas um ser que pensa, em que o intelecto torna-se a única instância
para se edificar um projeto e uma práxis educativa.
Seres
plurais, inacabados e finitos que somos, vivemos e convivemos na companhia dos
outros, que são diferentes para mim tal como eu sou diferente para eles. Na
sala de aula, a busca da verdade deve combinar-se também com a busca da
felicidade, da justiça e do belo. Do ponto de vista das relações que se
estabelcem na escola, é preciso levar em conta a pluralidade e a singularidade
que habita aquele espaço. Somos seres livres e abertos a experiências existenciais,
seja individuais ou coletivas, irredutíveis a um único aspecto. Por isso sugiro
aos professores que para o bem de sua mente e de seu corpo, não se angustiem e
nem se estressem, mas aprenda a lidar com o imprevisível, incluindo o mundo
sensível e passional em suas práxis pedagógica de forma a contribuir para um
processo educativo mais amplo e integral.
Na sala de aula se manifesta as mais
diversas perspectivas e expectativas que alunos e professores são portadores; é
um dos lugares onde a pluralidade humana se exprime. Alunos e professores não
são apenas sujeitos dotados da capacidade de conhecer, mas são pessoas que agem
e sofrem os efeitos da sua ação na sua relação com os outros, constituindo,
assim, as suas existências. O que quer que toque a vida humana ou entre em
duradoura relação com ela, assume imediatamente o caráter de condição da
existência humana. Tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para
ele é trazido pelo esforço humano, torna-se parte da condição humana. Qualquer
ação pedagógica deve levar isso em consideração, caso não queira viver a
experiência da frustração, como às vezes ocorre.
Romper com a uniformização e com a visão
universalizante da vida exige uma abertura ao outro em sua singularidade e não
há espaço mais apropriado para isso do que a sala de aula. Com isso queremos
dizer que não há o ser humano, mas seres humanos, ou nas palavras de Aristóteles,
o humano se manifesta de vários modos, o que exige do professor redescrever a
sua postura ao entrar em contato com seus alunos.
Ótimo! excelente texto,gosto de ter esta visão quando entro nas diversas turmas das diversas escolas as quais já trabalhei.
ResponderExcluirÓtimo! excelente texto,gosto de ter esta visão quando entro nas diversas turmas das diversas escolas as quais já trabalhei.
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