segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Deixem a escola aos educadores e a família aos pais!

Talvez muitos de vocês não saibam, mas está tramitando no Congresso Nacional um projeto que quer disciplinar a forma e o conteúdo que os professores devem trabalhar na sala de aula. Segundo os defensores do projeto, a escola não pode ser um espaço de debate e de liberdade de expressão, pois para eles isso levaria a um processo de doutrinação política e ideológica em sala de aula e tiraria o direito dos pais de oferecer uma educação a seus filhos que esteja de acordo com suas próprias convicções.
Conhecido popularmente como Escola sem Partido, a proposição tem como única virtude a capacidade de provocar um debate não apenas no seio educacional, mas também em outros setores da própria sociedade brasileira, entre eles os pais, os políticos, etc.
Não sei o que vocês pensam acerca da questão, mas sinto que esse projeto não passa de um engodo, pois não terá viabilidade e está na contramão de um processo histórico que está sendo construído em bases democráticas, plurais e de respeito à diferença. Se uma proposta como essa for aprovada e aplicada será o fim da profissão docente, pois não é professor quem se submeter e cumprir os deveres e regras que serão impostas pela nova lei. Por outro lado, os alunos perderão a possibilidade de ampliar os seus horizontes de compreensão da realidade, de forma a se tornarem mais tolerantes, respeitosos e, por fim, éticos.
Imaginou uma criança ou um adolescente ter apenas como visão de mundo aquilo que seus pais ou sua família lhe ensinaram? E se reina em sua família uma simpatia pelo nazismo ou se adota atitudes racistas e preconceituosas em relação a outras pessoas? Creio que estaremos diante de uma situação horrível para a humanidade.
Do meu ponto de vista, é preciso separar os mundos: das coisas da família cuida a família e daquilo que cabe à escola cuida os educadores. Concordando ou não com elas, temos um conjunto de leis e diretrizes que orientam a educação brasileira, suficientes para dar um rumo à forma e ao conteúdo do que se ensina e do que se aprende na escola. Desconsiderar isso é jogar na lata do lixo todo um percurso de pesquisas, de debates, de formação nas universidades, que busca contribuir na construção de um projeto de país, de nação e de sociedade, com todas as contradições inerentes à questão.
Além disso, a ideia de que o professor é um doutrinador é sem sentido e sem análise daquilo que ocorre no terreno da sala de aula. Não são casos e atitudes esporádicas de professores que devem nos levar a jogar fora a água da bacia com a criança dentro.
Para tranquilizar os pais e os professores, quero dizer que o melhor aluno em uma sala de aula é aquele que consegue perceber que há uma diferença entre aquilo que é dito em casa e aquilo que é ensinado na escola. Com certeza esse aluno está sendo bem formado, pois tem a inteligência para distinguir que são dois mundos diferentes. O desafio está em que os pais incentivem os seus filhos ao debate e os professores ofereçam as mais diversas opiniões e ideias sobre determinado assunto, e não que essa atitude pedagógica extremamente positiva seja excluída do ambiente escolar. Seria um desperdício!

Enfim, da escola cuida os educadores e da família cuida os pais e/ou responsáveis. Família e escola são mundos distintos, embora possam dialogar, mas jamais se anularem um no outro ou se excluírem. 

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