A ética tornou-se
na atualidade um assunto de profundos debates, repercutindo em amplas
esferas da sociedade. Observamos que no campo da educação, em particular, o tema dos valores tem ocupado uma grande
parte das discussões e das propostas, trazendo-nos algumas questões que
pretendem compreender os anseios e as expectativas que parcela significativa
dos personagens – alunos e professores - querem ver realizadas ou respondidas
na sala de aula.
Haveria um desejo no mundo contemporâneo em fazer
brotar elementos propícios e respostas que possam colaborar nas decisões e no
sentido que atribuímos às nossas formas de comportamento e de vida, enfim, à
nossa própria existência. Por isso, muito se tem falado, escrito e debatido
sobre ética e sua articulação com a educação.
Os desafios colocados hoje à humanidade demandam de
cada um nós uma postura firme e comprometida, de tal maneira que se busque
efetivamente responder às tensões e às crises herdadas do século passado.
Porém, num outro aspecto dessa mesma crise, quanto mais conhecemos, quanto mais
ampliamos e conquistamos novos saberes e construímos novos valores, adotando
novas formas de conduta e de pensar, mais nos sentimos incomodados e
insatisfeitos. A sensação é de desconforto e insegurança – e até de ignorância.
Ninguém tem mais certeza e segurança sobre quais valores devem ser garantidos.
Se considerarmos a ética como uma possibilidade de
aprofundar e compreender as inquietações que habitam o nosso tempo, a educação
pode ser tomada como um campo privilegiado e fértil para reflexões dessa
natureza. Como refletir a respeito de ética e moral, cidadania, direito e
amizade a partir de um diagnóstico que indica a impossibilidade de
justificarmos universalmente os valores que tomamos como parâmetros para nossas
condutas? Se um dos objetivos da educação é garantir a formação ético-moral,
que significado ainda poder ter o direito, a amizade, a justiça e a cidadania,
num mundo cujo próprio ideal de humanidade é colocado em questão?
As ideias do filósofo alemão Immanuel Kant é bastante
significativa sobre essas questões. Defendendo a ideia de que a
perfeição da natureza humana é a finalidade que cada geração deve deixar como
herança para as gerações futuras, considera que a educação deve ser de tal
maneira que possa proporcionar o aperfeiçoamento da humanidade. Segundo ele, é
entusiasmante pensar que a natureza humana será sempre melhor desenvolvida e
aprimorada pela educação, abrindo a possibilidade para uma futura felicidade da
espécie humana, tendo em consideração que
a natureza dispôs nos homens sementes de humanidade e nestas estão
contidas o destino do homem. Cabe à educação cultivar essas sementes para que
se desenvolvam bem e dê bons frutos.
Assim, o melhoramento
da espécie humana, o seu aperfeiçoamento, pela educação, em direção ao bem,
depende, para se desenvolver, do próprio homem. Como diz Kant, as disposições
para o bem não estão prontas, não se desenvolvem por si mesmas - a felicidade
ou a infelicidade humana dependem do próprio homem, cabe a ele desenvolvê-la. A
educação, portanto, é o maior e o mais árduo problema que pode ser proposto aos
homens.
Essa responsabilidade da educação, atribuída ao
homem, decorre das conseqüências maléficas ou benéficas que podem provocar na
vida das gerações futuras. Esta dimensão ética do processo educativo significa
que os conhecimentos produzidos pela espécie humana devem ter como finalidade
não apenas garantir como também desenvolver as disposições naturais do homem
para a razão e para a liberdade.
Enfim, a educação deve ter como
princípio superar o estado presente. De nada valeria educar permanecendo nos
limites das condutas do homem atual. É
preciso vislumbrar um estado melhor de vida para a humanidade, no futuro. Se o
mundo é corrupto ou mentiroso, necessita-se de uma prática educativa que
ultrapasse esse estado de coisas.
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