terça-feira, 11 de junho de 2013

O colapso de uma moral

Prof. Alonso Bezerra de Carvalho*

Desde há algum tempo temos constatado, via reflexões, discussões e atitudes, que estamos com muitas dificuldades em encontrar princípios que durem. Valores universais que moviam as nações, os povos e as pessoas se ausentaram da vida pública e nos resta apelar para as vontades e os desejos mais individualistas ou egoístas. Nós, os humanos, temos que enfrentar a cada dia a vida intramundana tal como ela é, pois para o além dela não se vislumbra nada de seguro e permanente.
Pode parecer novidade, mas essa constatação não é nada nova. Na história do pensamento humano vários pensadores já se debruçaram sobre a questão, tentando explicar ou compreender o que se passa. O filósofo alemão Nietzsche (1844-1900), no século XIX, dedicou grande parte de seus escritos a refletir sobre a falência dos ideais que prometiam uma vida feliz a todos os homens, tanto nessa vida como numa outra que teríamos, no futuro, depois da nossa morte.
Nietzsche vai dizer que os valores supremos de desvalorizaram. Isso não significa que o homem perde seu leme e o rumo para onde precisa ainda percorrer. Não se trata de mera negação. Antes disso, o que ocorreu foi apenas um esvaziamento de sentido, simplesmente a vida e seus significados já não dizem mais as mesmas coisas que dizem antes. Aquele otimismo exagerado nas ciências, na religião, na educação, na política, etc., parece ter desaparecido e agora nos resta enfrentar o vazio do mundo e de nós mesmos.
No campo da moral, sobretudo, é bem visível, segundo Nietzsche, a falta de sentido e a derrocada dos valores morais. Viveríamos num estado psicológico em que fica difícil acreditar que tudo tem um fim, um fundamento e uma verdade e que a vida eo mundo ainda possuem valor. Vivenciamos um processo de esgotamento generalizado de novas possibilidades com a vida, ou ainda, a falência da potencialidade humana em criar novas estimativas de valor.
Nietzsche propõe a ideia filosófica de que “Deus está morto”, querendo dizer com isso que os valores transcendentais e mais sublimes foram apagados de nosso horizonte. Apagar o horizonte é tirar a meta ou a direção do homem, ou seja, que a cultura já não tem um projeto para a formação do homem e nem rumo para onde nos movimentarmos. “Deus está morto” significa que todas as esferas da cultura – a política, a religião, a arte, a educação e a moral, por exemplo -, perderam sua base de sustentação.
A crise ética resultante desse processo é notória. Se nos resta alguma esperança disso tudo, diria que cabe a nós pelo menos reconhecer e fazer um bom diagnóstico da situação. A moral que adotamos até agora teria sido uma “moral de rebanho”, cuja característica principal é o controle quase total de nossas potencialidades com a promessa de uma vida ótima depois da morte. E com isso deixaríamos de manifestar os nossos desejos de maneira plena. A repressão, a culpa, o castigo, etc., eram os meios adotados para nos fazer acreditar nesse outro mundo.
Talvez não concordemos com o filósofo, mas que estamos diante uma boa interpretação para os nossos tempos, isso estamos! Pensemos numa outra moral!

*Alonso Bezerra de Carvalho é professor da Unesp.

E-mail: alonsoprofessor@yahoo.com.br

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