terça-feira, 9 de abril de 2013

O mundo contemporâneo e os seus valores


O tempo de hoje não é mesmo mais o tempo de ontem. Mas isso não é uma obviedade qualquer. Desde a infância, o homem é estimulado a consumir. Aliás, a criança é fonte de lucro. Basta ver as propagandas sobre produtos que devem ser adquiridos para satisfazer e “garantir” uma vida boa para os bebês que ainda vão nascer. Já na barriga da mãe eles são fontes de dinheiro. Tudo passa a valer a pena ser comprado. Os tentáculos do consumo têm provocado uma mudança profunda nos valores que tomamos para guiar as nossas vidas. O mundo dos desejos pertencem a outrem, que vai nos estimulando a cada instante a trocar, a comprar, enfim, a consumir. E o que se constata é que o produto adquirido torna-se descartável daqui a pouco. Nada é estável e nem consolidado.
Ao fim de tudo, o desejo torna-se infinito por natureza e passamos a maioria do nosso tempo vital tentando saciá-lo. E ao mesmo tempo convivemos com a insatisfação permanente. Nem ao menos aprendemos a manipular uma TV ou qualquer outro aparelho eletrônico, a publicidade nos diz que surgiu um mais moderno e requintado. É preciso trocar!
Parece que convivemos em um tempo que não nos dá mais a chance de refletir, pois há uma “sociedade secreta” que pensa por nós. Dá aquela sensação de que estamos sendo manipulados por forças alheias à nossa vontade. Nem precisamos ir mais às Igrejas ou recorrer à família ou a um partido político para buscar, viver ou experimentar valores ou mandamentos. Tudo já está pensado, fabricado e pronto para ser digerido e vivido.
Não são poucos os pensadores que escreveram sobre isso. Nietszche, Max Weber, Zigmunt Bauman, entre outros, considero os mais proeminentes que abordam a questão. Os valores universais que orientavam e davam sentido ao agir humano parece que foram substituídos e aniquilados. Tudo agora é efêmero, descartável, flácido, desencantado, liquido e ultrapassado. Se quisermos alguma dignidade no viver é preciso estar aberto ao novo a todo instante. Um novo que nem dá tempo de conhecê-lo direito, pois em pouco tempo já está velho.
Uma situação como essa lembra as frutas que são amadurecidas artificialmente. O seu sabor, o seu perfume e a sua textura se revestiram de uma qualidade e de características quase irreconhecíveis. Visto que nada mais é durável, isto é, a rapidez é o mote e o motivo da vida humana, novos valores precisam ser inventados bem como novas posturas e atitudes.
Viver na contemporaneidade é enfrentar as trevas e as luzes que ela lança sobre nós. Ser contemporâneo é ter a capacidade de reconhecer a presença da imagem de algo que ausenta a todo instante, pois percebe que a vida e, nós mesmos, somos incompletos e provisórios. “Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro”, diz o filósofo Giorgio Agamben.  Os valores do nosso tempo estão constitutivamente adiantados a si mesmo e a nós e, exatamente por isso, também sempre atrasados, pois tem sempre a forma de um limiar inapreensível entre um “ainda não” e um “não mais”. O desafio é viver nesse limiar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário