O
tempo de hoje não é mesmo mais o tempo de ontem. Mas isso não é uma obviedade qualquer. Desde a infância, o homem é
estimulado a consumir. Aliás, a criança é fonte de lucro. Basta ver as
propagandas sobre produtos que devem ser adquiridos para satisfazer e
“garantir” uma vida boa para os bebês que ainda vão nascer. Já na barriga da
mãe eles são fontes de dinheiro. Tudo passa a valer a pena ser comprado. Os
tentáculos do consumo têm provocado uma mudança profunda nos valores que
tomamos para guiar as nossas vidas. O mundo dos desejos pertencem a outrem, que
vai nos estimulando a cada instante a trocar, a comprar, enfim, a consumir. E o
que se constata é que o produto adquirido torna-se descartável daqui a pouco.
Nada é estável e nem consolidado.
Ao
fim de tudo, o desejo torna-se infinito por natureza e passamos a maioria do
nosso tempo vital tentando saciá-lo. E ao mesmo tempo convivemos com a
insatisfação permanente. Nem ao menos aprendemos a manipular uma TV ou qualquer
outro aparelho eletrônico, a publicidade nos diz que surgiu um mais moderno e
requintado. É preciso trocar!
Parece
que convivemos em um tempo que não nos dá mais a chance de refletir, pois há
uma “sociedade secreta” que pensa por nós. Dá aquela sensação de que estamos
sendo manipulados por forças alheias à nossa vontade. Nem precisamos ir mais às
Igrejas ou recorrer à família ou a um partido político para buscar, viver ou
experimentar valores ou mandamentos. Tudo já está pensado, fabricado e pronto
para ser digerido e vivido.
Não
são poucos os pensadores que escreveram sobre isso. Nietszche, Max Weber, Zigmunt
Bauman, entre outros, considero os mais proeminentes que abordam a questão. Os
valores universais que orientavam e davam sentido ao agir humano parece que
foram substituídos e aniquilados. Tudo agora é efêmero, descartável, flácido,
desencantado, liquido e ultrapassado. Se quisermos alguma dignidade no viver é
preciso estar aberto ao novo a todo instante. Um novo que nem dá tempo de
conhecê-lo direito, pois em pouco tempo já está velho.
Uma situação como
essa lembra as frutas que são amadurecidas artificialmente. O seu sabor, o seu
perfume e a sua textura se revestiram de uma qualidade e de características
quase irreconhecíveis. Visto que nada mais é durável, isto é, a rapidez é o
mote e o motivo da vida humana, novos valores precisam ser inventados bem como novas
posturas e atitudes.
Viver
na contemporaneidade é enfrentar as trevas e as luzes que ela lança sobre nós.
Ser contemporâneo é ter a capacidade de
reconhecer a presença da imagem de algo que ausenta a todo instante, pois
percebe que a vida e, nós mesmos, somos incompletos e provisórios.
“Contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele
perceber não as luzes, mas o escuro”, diz o filósofo Giorgio Agamben. Os valores do nosso
tempo estão constitutivamente adiantados a si mesmo e a nós e, exatamente por
isso, também sempre atrasados, pois tem sempre a forma de um limiar
inapreensível entre um “ainda não” e um “não mais”. O desafio é viver nesse
limiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário