terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Política, futebol e religião se discute, sim!



É corriqueiro ouvirmos no cotidiano as pessoas estarem de acordo com a idéia de que política, futebol e religião não se discutem. Ledo engano, pois as amizades, as proximidades ou até mesmo os distanciamentos entre as pessoas se dão justamente por meio de alguma dessas discussões.
No caso da política, todos os dias as pessoas debatem sobre os efeitos das decisões políticas que são tomadas, alguns concordando e outros discordando delas. E dever ser assim mesmo. Apenas nos regimes totalitários os cidadãos são convidados a ficarem quietos e aceitarem o que lhes é imposto. Quando nos silenciamos a respeito das questões políticas, tenhamos certeza de que alguém está tramando algo contra nós, com a nossa permissão. Como já dissera o pensador Bertold Brecht: “o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”. Portanto, não é nada orgulhoso e, sim, burrice, estufar o peito e dizer que odeia a política. Pois é de atitude ignorante e imbecil como essa que nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio.
No que diz respeito à religião, ela pode ser tema de discussão, sim, pois por mais ateu que alguém possa ser, a sua vida se constitui de algum elemento espiritual e de alguma religiosidade. Para mim, o problema surge quando surgem instituições, como as igrejas, e se autoproclamam como a única representação ou a única via para a experiência do religioso. Nesse caso, elas cumprem a função já denunciada por Karl Marx quando afirma que a religião é ópio do povo, isto é, são ilusões inventadas e, como um produto tóxico, nos entorpece, nos aliena e nos enfraquece  porque a esperança de consolação e de prometida justiça no "outro mundo" transforma o explorado e oprimido num ser resignado, afastando-o da luta contra as causas reais do seu sofrimento. E se isso não bastasse, esse domínio religioso tende a nos levar a fanatismos e a fundamentalismos que mais escraviza e aniquila a vida do que liberta e nos torne seres emancipados. Exemplos grandes e pequenos não faltam no nosso dia-a-dia. Como não discutir isso?
Por fim, o futebol, parece-me, é o menos problemático, tendo em vista que os amantes desse esporte, praticantes e torcedores, sobretudo no Brasil, tendem a considerar o jogo como um momento de arrebatamento e extravasamento de paixões, que causam proximidades e debates entre as pessoas, causando, infelizmente e muitas vezes, atos de violências. De toda forma, não é por ausência de discussão que o futebol morrerá, mas pelas manipulações, o marketing exagerado e os interesses inescrupulosos que correm em seus bastidores, criando, qual a religião, um mundo prometido e jamais vivido. Na política também.
Enfim, somente pelo diálogo no espaço público é que, verdadeiramente, podemos construir uma convivência em que as relações humanas garantam a pluralidade, a diversidade e o respeito entre as pessoas. Comecemos pela política, pela religião e o futebol.

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