sábado, 24 de setembro de 2011

É possível uma educação fora da razão?


Desde a tenra idade somos educados para o raciocínio, isto querendo dizer de maneira geral que somos capazes de formular e compreender conceitos, idéias e teorias. A criança quando chega à escola, por exemplo, logo já é levada estimulada a reconhecer e a escrever letras, números, palavras e frases, enfim, a ser alfabetizada. O professor olha para aquele ser indefeso, tenso, curioso e dinâmico e vê nele um espírito dotado de inteligência e, tomado como racional, pode e deve ser explorado e motivado a conhecer.
É no início da modernidade, ali pelos idos dos séculos de XVI, que a escola, o professor e o aluno como conhecemos hoje se instauraram. A razão conquista um lugar de profundo destaque no campo filosófico, educacional e científico. O filósofo francês chamado René Descartes deu uma contribuição fabulosa para esse processo. Ao reconhecer as limitações do conhecimento que se praticara anteriormente, isto é, no período da Idade Média, ele se empenhou em buscar um novo método de investigação, uma nova forma de conhecer para se chegar à verdade e à certeza; um método que tivesse clareza e distinção, um método para unificar todos os conhecimentos humanos a partir de bases seguras, construindo um edifício plenamente iluminado pela verdade e, por isso mesmo, todo feito de certezas racionais.
Para o pensador francês, a essência da natureza humana era o pensamento, que ele chamava de “cogito”, privilegiado em detrimento da matéria. Assim, a razão passou a ser considerada com todas as forças, tornando-se o guia para o encontro da verdade de maneira exata, clara. Nesse sentido, o mundo das paixões, das emoções, dos sentimentos são instâncias que nos conduziria ao engano, ao erro e, portanto, não podemos confiar nelas, mas renunciá-las. E é essa concepção de verdade, de ciência e de conhecimento que aportou de maneira plena na escola, esta se tornando nada mais do que uma instituição que dá sustentação, visibilidade e exeqüibilidade ao campo racional.
Nessa modernidade que se instaura o mundo perde os seus encantos, os seus segredos, reduzindo-se a algo que pode ser controlado, conhecido e manipulado. Nada escapa. Por isso há a necessidade de um professor que centraliza o saber e de um aluno sobre o qual deve-se depositar os conhecimentos. Aquela inocência infantil é aniquilada e em seu lugar instaura-se a crença no racional, na racionalidade. A razão pode tudo.  Tudo é organizado para que o sujeito pensante, o sujeito da razão, possa agora determinar as coisas.
No entanto, é possível perceber que após alguns séculos, aquilo que foi expulso pelas portas da frente, volta pelas janelas do fundo: as paixões, as emoções, os sentimentos. Ações e condutas humanas nem sempre são ou podem ser racionais. Não dá para ser racional todo o tempo. Nesse aspecto, se quisermos hoje em dia pensar e construirmos uma educação inovadora seria razoável considerar esse outro lado de nós mesmos. O que significa dizer que a razão não pode tudo e que há algo fora dela que é preciso levar em conta. Pensemos nisso!

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