terça-feira, 21 de junho de 2011

O homem e o cavalo: a liberdade


            Ser ou não ser? Fazer ou não fazer? Eis questões que tomam conta de nosso dia a dia. Não há dia de nossas vidas em que não nos defrontamos com situações semelhantes a estas. Parece que estamos “determinados” a deliberar e escolher entre alternativas. E é verdade: nascer humano é estar condenado a ser e agir livremente, nos ensinou o filósofo francês Jean-Paul Sartre.
            Para ele, o que define a liberdade é o ato em si de escolher. Quando nós definimos que vamos escolher aí se localiza nossa liberdade. O ato de escolher, seja lá o que for, é que vai determinar a existência da minha liberdade. Deste modo, a liberdade é um ato de conduta, é uma postura e uma atitude e não um ato com fim em si mesmo. É na conduta que vai ser valorada a minha liberdade. A liberdade se manifesta por meio de uma escolha e não pelo seu resultado. Por exemplo, a escolha de morrer é escolha e a escolha de não morrer é também escolher, e não o morrer ou não morrer. Enfim, é a conduta que vai conduzir isto ou aquilo que vai determinar a existência ou não da liberdade.
            Se assim é, somos livres desde o começo e a liberdade não pode ser uma conquista, mas algo “dado”. Como convive com outras pessoas, o homem é concebido desde o inicio dotado de um sofrimento de liberdade, isto é, ele está condenado a escolher, o que o libera da idéia de que haja uma liberdade em abstrato ou em absoluto. A liberdade seria o homem se movimentando dentro de uma área circunscrita, cujos limites foram escolhas feitas anteriormente por outros sujeitos e, por isto, impondeo a ele escolhas necessárias. A partir da primeira escolha todas as escolhas continuam sendo exercício de liberdade. Portanto, não há um determinismo, no sentido em que outros escolhem por nós, mas, sim, exige-se um engajamento.
            O engajamento é reconhecer que outras coisas ocorreram antes da nossa chegada, e nós vivemos em um mundo de escolhas já feitas. Assim, o que devemos fazer é decidir nos engajarmos tomando parte daquilo que já existe ou então entrando na luta para a transformação daquilo já existente. O homem é livre, ao contrário de um cavalo amarrado, que não tem consciência dos múltiplos e diversos aspectos das situações de sua existência. O cavalo não tem idéia da corda que o prende, e seu desespero em se soltar não indicaria o desejo de liberdade. Domesticado, ele toma isto como fatalidade cósmica. A corda para o cavalo vai apresentar-se como fato da natureza enquanto para o homem ele sempre terá consciência de sua existência e inclusive da escolha do aprisionamento.
            Em suma, e sem querer moralizar, nós podemos agir, então, em direção a coisas melhores do que ultimamente temos escolhido. Se não temos valores absolutos e universais que nos guie, que pelo menos comecemos a nos conscientizar que cavalos não somos.

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