Ao responder essa questão, sem floreio, a minha resposta é: nos
libertará da ignorância, do medo e da dominação dos outros. É evidente
que há outras razões a serem abordadas. No entanto, essas são as que considero
nucleares quando o assunto trata da importância do conhecimento da verdade.
O que você lerá a seguir é a reflexão sobre cada um dos itens desta
resposta. Sendo que o objetivo central deste escrito é facultar aos leitores do
mesmo, as condições de possibilidades para termos uma vida sem tantas dores
existenciais.
1. Por que o conhecimento da verdade nos liberta da
ignorância?
No artigo escrito por mim, cujo título é: “As razões que justificam ser
a verdade um bem”, procurei detalhar a etimologia do conceito verdade. Por
isso, farei um atalho e irei direto ao foco.
Gnose é uma palavra de origem latina. Traduz a ideia de conhecimento.
Contudo, de modo geral é usada no sentido do conhecimento do Eu na relação com
o Transcendente. A letra “I” no latim – semelhante ao que ocorre com a letra
“A” no grego clássico -, é utilizada em muitas palavras como
prefixo de negação. Razão pela qual a palavra ignorância pode
ser compreendida como o “não conhecimento”, ou seja, ignorante é aquele que não
conhece.
Você concorda com a expressão: “todos nós somos ignorante em assuntos
diferentes”? Lembro-me que li isso em 1987 e nunca mais deixei de pensar que
isso é mesmo algo significativo. É por isso que termos a humildade perto de
nós, faz toda a diferença em nosso dia-a-dia. O arrogante, por pensar que sabe
tudo, não aceita o diferente. Pensa que ninguém pode lhe ensinar algo. Por ser
assim, acaba sofrendo, entre outras coisas, com o isolamento social. Isso
porque as pessoas, ao perceberem que suas ideias nunca são consideradas, acabam
por se afastar dessa pessoa.
A filosofia é movimento. É a procura amorosa da verdade, nunca sua posse
definitiva. Se estivermos abertos à possibilidade do novo, sofreremos menos.
No livro Convite à Filosofia da Marilena Chauí, de forma brilhante, ela
responde à seguinte questão: por que o homem busca o conhecimento? Diz-nos
que a principal razão de ser do conhecimento é o desejo humano de resolver seus
problemas. Para ilustrar melhor essa questão lançarei mão de um recurso
didático que gosto muito, que consiste em apresentar as ideias em forma de
tópicos. São eles:
· Karl Marx (1818-1883) teve
cinco filhas e um filho. Quando seu guri tinha 14 anos foi acometido de forte
infecção na garganta. Marx e seu grande amigo Engels estudaram mais do que os
médicos da Inglaterra da época para encontrarem uma solução para o filho.
Resultado: seu filho morreu. Isso lhe causou dores existenciais profundas.
Claro que para sua esposa – Geni – também. Se fosse hoje, talvez, uma amoxilina
poderia salvar seu filho. No século XIX não se conhecia esse remédio;
· No campo da economia isso não
é diferente. Aquele que conhece bem o funcionamento do mercado e atua com
vendas, por exemplo, certamente sofrerá menos à medida que fará uma leitura
melhor da conjuntura econômica, etc. Já escrevi em outro momento que eu e meus
sócios, por não conhecermos muito do sistema tributário, acabamos pagando uma
fortuna de impostos sem necessidade. Somente depois de fazermos um estudo
exaustivo do Simples Nacional, percebemos que um bom planejamento tributário
seria a solução para podermos continuar prestando um bom serviço à sociedade;
· Outro exemplo que aconteceu
recentemente comigo: hoje eu moro em Cascavel, no oeste do Estado. Estou me
organizando para voltar a morar em Curitiba. Encontrei na internet o anúncio da
venda de um terreno. Que nele a prefeitura autoriza construir prédios com até
quatro pavimentos. O principal diferencial do anunciante foi destacar isso. Ao
ligar para três amigos que moram em Curitiba, se valeria a pena investir nesse
local para lá morar, um disse-me: “- Ivo, se você pretende fazer parceria com
alguma construtora para depois do imóvel pronto você ficar com um
apartamento é possível, mas eles só aceitam quando o terreno tem 17 metros de
frente”. Ora, o imóvel anunciado só tem 10,4 metros. Portanto, graças a essa
informação evitarei uma frustração amanhã. Uma simples demonstração do quanto o
conhecimento da verdade é importante;
· No que tange ao campo do
direito isso fica ainda mais evidente. Quantos que sofrem por não conhecerem as
leis que regulamentam a vida que o cerca? Se existe algo que me entristece nas
relações humanas é quando alguém começa a me dizer: - “Isso você não pode fazer
porque não é legal”! Quando você pergunta de que lei ela está falando, ela diz:
“Eu não sei o número da lei, mas posso lhe garantir que não pode”! Barbaridade!
Não aceite essa imposição. Estou agindo com tolerância zero em face disso.
Chega de especulação!
Não aceite as coisas com base no ouvir dizer. Hoje, com o recurso dos
portais de busca, basta você digitar a lei tal, que já aparece o número, de
onde emanou, etc. Dessa forma, ao buscar as informações na fonte, nos
livraremos dos atravessadores que, muitas vezes, aumentam o floreio para nos
dominar. Convido-lhe a seguir essa leitura. Vou lhe apresentar meu entendimento
acerca da questão do medo.
2. Por que o conhecimento da verdade nos liberta do
medo?
Se você já leu outros artigos meus, deve ter percebido que em quase
todos eu cito Espinosa (1632-1677). No tocante a essa temática, não há como não
cita-lo. Até porque pelo pouco que conheço da Filosofia, ele foi um dos
filósofos que abordou essa questão do medo com muita propriedade. O que basicamente
ele nos diz a esse respeito?
O homem teme a morte. Creio que você concorda com essa afirmação.
Ninguém deseja conscientemente morrer. Nós nos esforçamos para prolongarmos
nossa existência. Assim, vivemos uma dicotomia. Diante nós reinam duas forças: o
medo e a esperança. Medo que algo possa vir a me acontecer e esperança de
que tal mal não me aconteça.
A título de exemplificação, vou citar
algumas situações que vivemos hoje. Existem muitos consultores que primeiro
vendem dificuldades para depois venderem facilidades. Eu mesmo conheço vários.
Primeiro, começam fetichizando seus títulos acadêmicos. Depois, põem medo nas
pessoas acerca de uma determinada situação. Por fim, dizem: - “eu tenho a chave
de como resolver isso, só que meu preço é tanto”. Eu vivenciei uma situação
análoga.
Por uma questão ética vou lhe contar o “milagre, mas não o santo”. Numa
certa feita um ator social X dizia: - “olha isso, não dá para fazer, o MEC não
deixa”! “A lei, X proíbe isso”. E assim por diante. Depois de colocar medo no
seu superior que não conhecia as leis educacionais, ele começou barganhar um
valor exorbitante para resolver tais problemas que ocorriam em sua instituição.
Devemos muito aos pensadores iluministas do século XVIII. O que se
convencionou chamar de primavera árabe, nada mais é do que uma revolução
francesa tardia. Os movimentos sociais no mundo árabe buscam entre outras
coisas, libertarem-se do medo imposto pelos líderes políticos e religiosos ao
longo de séculos. O desejo de liberdade, igualdade e fraternidade ecoam até
hoje no coração de muitos seres humanos. Dos que não aceitam ser subjugados por
aqueles que dizem ter o “sangue azul”.
3. Por que a verdade nos liberta da dominação?
Em latim dominus significa senhor. Por isso, o
conceito dominação pode ser compreendido como “ação do senhor”. Em outras
palavras: aquele que exerce um poder sobre outrem. Daí que vem a palavra
domingo, ou seja, dia do senhor.
Talvez você concorde comigo que é da condição humana a necessidade de
termos líderes. E éincrível como isso é tão natural. Quem trabalha como
educador ou educadora, pode comprovar o que escrevo. Basta às crianças irem
crescendo que logo começam a se destacar alguns com espírito de liderança.
Ocorre que existem alguns líderes que desejam garantir privilégios a
qualquer custo. Para tanto, criam uma ideologia. E o que isso significa?
Constroem um corpo de ideias muito bem fundamentado, capaz de dar sustentação
aos seus interesses. A partir disso começam a persuadir os outros através de
uma comunicação perlocucionária, como bem nos mostra Habermas (1929...).
Recentemente eu ouvi um líder religioso falando pela TV. Para persuadir
os outros dizia: - “isso está na Bíblia, portanto é legítimo que eu aja assim”!
“Por que se pode usar o cartão de crédito em diversos locais e nós não podemos
usar em nossa igreja”?, etc. Ao desconstruirmos o seu discurso poderemos chegar
ao êidos do fenômeno, qual seja, de que sua verdadeira intenção é ver seu
patrimônio aumentando, independentemente da situação em que os outros se
encontram.
Portanto, o conhecimento da verdade é fundamental para todos aqueles que
desejam construir uma vida pautada pela razão. Para aqueles que desejam ter uma
espiritualidade desfetichizada, livre do medo e da imposição da pseudo verdade
dos outros.
Se esta
leitura contribuiu para o fortalecimento do seu conatus, meu
objetivo foi alcançado. Sobre esse conceito em negrito, você encontrará mais
informações no meu artigo “Como superar uma grande paixão”, disponível no meu
blog: www.itecne.edu.br/ivo Notoriamente, desejo que leia meus
textos... rs!
[1]Ivo José
Triches é escritor, palestrante, Diretor das Faculdades Itecne de Cascavel.
Autor do blog www.itecne.edu.br/ivo também é formado em Filosofia. Fez três
Especializações e fez o Mestrado.
Muito bom, prof. Veio a calhar para uma necessidade minha no momento. Tks. Elionora
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